sexta-feira, 29 de julho de 2016

Notas após o estágio do Porto

Após o estágio na Holanda e na Alemanha embora ainda não exista uma ideia clara sobre qual vai ser o onze que Nuno Espírito Santo vai utilizar como base, pelo menos para os observadores exteriores, não deixa de ser claro que há ideias base que vão moldar o jogo do Porto na época 2016/17. Com posse de bola o Porto atacará preferencialmente em 4-3-3 e sem posse de bola a defesa será organizada em 4-4-2, com Corona a ficar menos envolvido nas tarefas defensivas.


4-3-3 com um médio defensivo



Este foi o esquema preferido de NES quando o Porto estava em organização ofensiva ao longo dos jogos. Quatro defesas, um médio defensivo com capacidade de construir, dois interiores muito móveis, dois extremos bem abertos e um ponta-de-lança móvel.

As laterais deverão ser asseguradas por Maxi Pereira e Alex Telles, visto que este último foi uma opção de NES. No entanto, Layún já mostrou, quer no estágio, quer na época passada, capacidade suficiente para ser titular em qualquer dos flancos.

Neste esquema não faz muito sentido a entrada de Danilo, visto que jogadores como Rúben Neves ou Evandro asseguram uma muito melhor saída de bola evitando que sejam os interiores a baixar junto aos centrais para pegarem no jogo.

Neste sistema, João Carlos Teixeira e Herrera serão os candidatos naturais a ocuparem as posições de interiores, embora André André não seja um elemento totalmente descartado. Josué, dada a sua criatividade seria sempre uma boa opção para este esquema táctico, embora a sua pouca utilização no estágio não indique que venha a ser uma opção habitual durante a pré-época. Bueno é um elemento que terá maiores dificuldades em jogar neste sistema, não porque não tenha capacidade, mas porque estará muito afastado da área, perdendo assim parte da sua mais-valia que são os desequilíbrios junto da área adversária.

Tendo em conta o perfil de Corona e de Otávio, os jogadores que se afirmaram com o melhor desempenho, será necessário que os defesas laterais sejam muito ofensivos por forma a explorar a largura em caso de os extremos procurarem terrenos mais centrais, ou para aproveitar o espaço entre o ponta-de-lança e os extremos, caso estes fiquem nas alas. Este será porventura o esquema mais utilizado contra o Porto no campeonato nacional, dado que a generalidade dos clubes preferirá defender na maior parte do tempo. Brahimi, parece ser um candidato natural ao lugar que Otávio reclamou na pré-época, quer por ter uma maior qualidade técnica, quer por ter maior estatuto dentro da equipa do Porto, mas terá que subir o nível competitivo.

Na frente de ataque, André Silva tem sido a opção mais habitual e partirá para a época, ou pelo menos, desde o estágio à frente de Aboubakar. Adrián Lopez terá algumas dificuldades em se afirmar neste esquema táctico, pelo que nos parece que provavelmente deverá ser novamente cedido.


4-3-3 com 2 médios defensivos


Pouco utilizado no estágio, excepto no último jogo contra o Bayer Leverkusen, este é um esquema que pretende dar maior segurança na saída de bola devido à posição mais recuada de dois elementos. Parece-nos ser claramente um esquema para jogos da Champions, em especial fora de casa e para os jogos com os grandes no campeonato nacional.

Os laterais neste esquema de jogo embora tenham a mesma amplitude de movimentos que no outro esquema, não sobem ao mesmo tempo, sendo que na primeira fase de construção não se projectam por forma a garantir 6 jogadores atrás da linha da bola, evitando assim grandes desposicionamentos em caso de existirem perdas de bola.

Neste modelo é previsível que jogue Danilo, tendo a seu lado a companhia de Herrera ou de André André, jogadores menos criativos, mas mais combativos, isto é, com melhor reacção à perda de bola e mais fortes nos duelos físicos. Obviamente que haverá uma menor qualidade na primeira fase de construção e menos jogadores a aparecerem no último terço do terreno.

Porém , este esquema dá uma maior liberdade ao médio ofensivo, algo que se adapta perfeitamente a um jogador como Bueno, podendo jogar nas costas do avançado a criar desequilíbrios. Outra alternativa devido à sua extraordinária técnica e visão de jogo poderá ser João Carlos Teixeira, embora esteja habituado, pelo menos neste Porto, a pisar terrenos mais recuados onde há mais tempo e espaço para executar. Ainda neste esquema, Adrián Lopez poderá ser uma alternativa, embora não nos pareça ter a criatividade suficiente para o que a posição exige.


4-4-2 em Organização defensiva

 

Partimos da organização ofensiva do 4-3-3 com um médio defensivo, que julgamos ser a escolhida na maioria dos jogos para a organização defensiva em 4-4-2. Neste esquema, enquanto que o interior esquerdo fecha ao centro com o médio defensivo, o interior direito está encarregue de fechar a ala direita, sendo que a ala esquerda é fechada pelo extremo esquerdo. Esta foi uma opção vista ao longo dos jogos de preparação, em especial porque Corona tem muito mais estatuto que Otávio e portanto não se dedica tanto a trabalhos defensivos. Será interessante ver o que se passará, caso Brahimi seja titular, pois é outro elemento também pouco vocacionado para tarefas defensivas.

O Porto varia as suas zonas de pressão, sendo que regra geral esta se torna muito mais intensa após o adversário entrar no meio-campo defensivo do Porto. Contra adversários de menor qualidade, é expectável que o Porto opte por uma pressão campo inteiro, até perto da área, por forma a recuperar a bola em situações favoráveis e com isso manter o adversário em stress. A pressão do Porto tem sido feita essencialmente sobre o portador da bola e com referências individuais, isto é marcação hxh com os jogadores a saírem ao portador. Normalmente a pressão é efectuada por um jogador, mas em alguns casos dois jogadores tentam cair sobre o portador.

Esta estratégia parece ser acertada contra adversários de menor capacidade, pois ao criar-lhes dificuldades ou os obriga a bater longo permitindo à defensiva do Porto disputar os lances com superioridade numérica e portanto ter muito mais probabilidade de recuperar a bola, ou originará perdas de bola do adversário no seu meio-campo. Contra adversários com maior capacidade, esta estratégia não nos parece muito aconselhada.

Ao fazer a pressão até à área adversária, o Porto sobe as duas primeiras linhas, médios e avançados, mas a defesa tem mostrado recuar o que faz com que o comprimento da equipa aumente e consequentemente aumentem os espaços, em especial entre a defesa e o meio-campo, algo que se via no Benfica de Rui Vitória no início da temporada passada. Outro problema é que a pressão é feita em função do homem, em especial do portador e não das linhas de passe. Um adversário de maior qualidade fará os seus jogadores deslocarem-se criando linhas de passe e permitindo ultrapassar a pressão através de tabelas curtas. Depois de batida a primeira linha de pressão e com espaço entre a defesa e o meio-campo, o Porto torna-se vulnerável a rápidas transições em tabelas.

No seu meio-campo e em organização defensiva, o Porto embora parta de uma posição inicial de duas linhas compactas, como usa como referência o portador da bola, normalmente há um jogador a sair ao portador a tentar conduzi-lo para o corredor lateral por forma a que os colegas sobrecarreguem essa zona para tentar recuperar a bola. Novamente esta opção parece ter riscos associados com a qualidade dos adversários. A consequência de sobrecarregar no corredor lateral do lado da bola, leva a abrir espaços no corredor central, pelo que uma rápida mudança do centro de jogo poderá criar desequilíbrios na defesa do Porto. A questão da saída ao portador da bola, permite a que equipas que joguem bem em tabelas consigam criar situações de superioridade devido à forma como os jogadores abordam as jogadas.


Na defesa, Chidozie e Reyes são claramente as segundas opções para NES, embora Filipe continue a ter uma, por vezes duas falhas graves durante o jogo, seja de concentração como foi na primeira parte contra o Leverkusen, seja de abordagem aos lances como foi no golo alemão. Na lateral direita Maxi parece não ter concorrência à altura enquanto que do lado esquerdo, embora seja aposta do treinador, Alex Telles ainda não mostrou estar ao nível de Layún.

No ataque também não parecem existir grandes dúvidas, André Silva como referência central e Corona e Otávio nas alas parecem partir em vantagem sobre Aboubakar e Brahimi, visto que Ricardo Pereira claramente não demonstra o mesmo nível de qualidade. Aliás, a possível contratação de Rafa tiraria qualquer espaço a Ricardo Pereira, isto sem contar com Varela, que com NES, apenas parece fadado para ser uma longínqua opção para lateral-direito.

As grandes dúvidas situam-se no meio-campo. Ainda sem Danilo, várias foram as combinações que NES experimentou ao longo do estágio. Danilo tem um perfil muito diferente dos outros médios, estando mais vocacionado para a recuperação de bola e para os duelos individuais, do que para a construção com qualidade. Neste sentido, além de Josué parecer ter perdido o comboio, é provável que Evandro seja outro dos sacrificados, pelo que o triângulo de meio-campo deverá sair do seguinte lote de opções: Danilo, André André, Herrera, Rúben Neves, João Carlos Teixeira e Bueno. Os primeiros três com maior intensidade, os segundos três com melhor relação com a bola. 

Globalmente parece-nos que o modelo de NES está particularmente vocacionado para o campeonato português, em especial para a generalidade dos jogos contra os clubes mais pequenos que não irão assumir o jogo nem têm qualidade para sair a jogar trocando a bola. O maior risco para o Porto pode também vir a tornar-se a maior solução, André Silva. O desempenho do jovem avançado, que tanto o pode guindar a uma transferência milionária como a uma estagnação na carreira, será fulcral para o sucesso do Porto. Prevemos que a grande revelação do Porto venha a ser João Carlos Teixeira, devido à sua recepção orientada, à sua visão de jogo e à sua grande qualidade no momento ofensivo. O grande desafio para este jovem será como se adaptará às funções defensivas e consequentemente como o treinador o enquadrará. Não existam dúvidas, pelo demonstrado na pré-época, o Porto vai ser um candidato real ao título.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Benfica-Torino - Eusébio Cup

Existem muitos espaços que abordam a temática do significado do jogo de ontem para a Eusébio Cup. Aqui, a preocupação é olhar para a táctica e perceber como pode evoluir a equipa de Rui Vitória que tem alternado boas exibições com outras menos conseguidas, independentemente do nível de dificuldade teórica dos adversários que defrontou. O Torino é uma equipa do meio da tabela da Série A, que começou a pré-época mais tarde que o Benfica e que portanto seria expectável que não constituísse um grande obstáculo depois da sólida exibição que o Benfica teve na Áustria contra o Wolfsburgo.

Benfica 4-4-2
Paulo Lopes (Júlio César 45')
Nélson Semedo (André Almeida 45'), Luisão, Lisandro (Lindelof 64') e Grimaldo
Fejsa (Samaris 45'), André Horta (Benitez 64'), Salvio (Pizzi 45') e Cervi (Carrillo 45')
Gonçalo Guedes (Jonas 64') e Mitroglou (Jiménez 45')

Torino 4-3-3
Gomis (Padelli 60')
Zappacosta (Bruno Peres 73'), Maksimovic (Ajeti 80'), Molinaro (Barreca 80') e Moretti (Gastón Silva 73')
Vives (Gazzi 60'), Afriyie (Aramu 73') e Obi (Baselli 46')
Ljajic (Boyé 73'), Falque (Martinez 60') e Belotti (Maxi Lopez 60')

1-0 Vives (autogolo) 11', 1-1 Ljajic 32'

Assumindo naturalmente o favoritismo o Benfica entrou ao ataque. Mesmo sem criar grandes ocasiões, a bola rondava a área do Torino e o golo acabou por surgir de forma natural, embora como resultado de um grande falhanço do guarda-redes Gomis e de uma má abordagem do defesa Vives que tentando impedir o golo de Mitroglou acabou por fazer o autogolo.

O Benfica continuou a pressionar, mas sem grande esclarecimento e começando a denotar falhas de concentração na fase da construção. Primeiro Guedes e depois Fejsa perderiam bolas em zonas de perigo e no segundo caso o lance terminou com uma falta de Lisandro do qual nasceria o golo do Torino. A opção por este onze trouxe mais verticalidade ao futebol do Benfica, mas sempre por fora do bloco, o que necessariamente contribuiu para uma menor influência de André Horta na movimentação ofensiva.

Ao invés de Horta, Semedo e Grimaldo estiveram em destaque pelo jogo que carrilaram pelas laterais, mas sem que depois isso se traduzisse na criação de quaisquer oportunidades relevantes. Salvio, perante um adversário mais bem posicionado defensivamente voltou a mostrar grandes dificuldades em desequilibrar e Cervi continua sem perceber muito bem como se enquadrar no onze.

A opção por Guedes é perniciosa para o jogo de ataque do Benfica. Guedes procura sempre ser solicitado na profundidade e a única forma de verdadeiramente desequilibrar é quando se junta ao lateral e ao extremo, em especial do lado direito, garantido uma superioridade na ala. O problema é que esses desequilíbrios e essas superioridades obtidas na ala, implicam uma menor presença no corredor central e consequentemente menor possibilidades de criar perigo, a menos que estes deslocamentos sejam compensados com o movimento interior para ocupar o espaço clareado. Pizzi e Almeida sempre o souberam fazer com Jonas quando este arrastava os centrais para o corredor lateral, que depois de os enganar, rapidamente voltava ao corredor central em vez de procurar a linha de fundo como faz Guedes. Semedo e Salvio, ao não fazerem este movimento interior, tornam muito mais complicada a missão de desequilibrar defesas muito compactas.

Quando joga, Pizzi procura movimentos interiores onde faz a aproximação ao avançado ou se constitui como uma linha de passe adicional dentro do bloco. Na época passada, além de Pizzi, também Gaitán fazia estes movimentos pelo que para além dos dois avançados, o Benfica tinha quase sempre estes jogadores a dar linhas de passe disponíveis dentro do bloco. Com Guedes a procurar a profundidade, Salvio a jogar pelo flanco e Cervi ainda sem perceber muito bem que terrenos pisar, apenas Mitroglou é solução, ou seja, o Benfica fica condenado a jogar por fora, sendo muito menos perigoso para adversários relativamente bem posicionados em termos defensivos.

Na segunda parte, com Pizzi e Carrillo, o Benfica ganhou mais soluções dentro do bloco e existiram mais movimentos de fora para dentro. Porém, Mitroglou tem muito mais cultura de posicionamento que Jiménez, gosta de deambular pelo terreno de jogo, procurando também muitos movimentos de rotura aproveitando a sua velocidade. O problema de Pizzi continua a ser que o nível de decisões tende a cair a pique conforme se aproxima da baliza e pensa poder ter oportunidade de marcar. Já no jogo contra o Porto na Luz, Pizzi optou sempre por rematar em vez de passar para os colegas melhor posicionados para finalizar. Este comportamento dual, muito critério na criação e pouco critério na finalização prender-se-á, por ventura, com a falta de confiança que o jogador sente do treinador, isto é, com a iminência de perder a titularidade.

Em termos defensivos, apesar do bloco alto estar a funcionar relativamente bem, o Benfica continua a mostrar alguns problemas com a reacção ao jogo, isto é, os jogadores demoram a orientar os apoios em função das situações de jogo e como o Benfica opta por uma defesa estreita, as variações de flanco criam desequilíbrios devido ao tempo que a defesa do Benfica demora a bascular. Esta situação agrava-se com o perfil mais ofensivo de Semedo e principalmente Grimaldo.

Lindelof e Jonas continuam fora de forma não sendo, portanto, ainda opções para o onze principal, pelo que a qualidade que poderiam trazer ao jogo do Benfica continua ausente. Luisão mostrou estar atento e comandar bem a defesa nos movimentos de subida e descida, mas a sua falta de velocidade de deslocação será um risco muito grande frente a equipas que saibam fugir à armadilha do fora-de-jogo. Com laterais ofensivos, os centrais têm que possuir uma grande leitura de jogo e velocidade de deslocação.  A Lisandro falta a primeira, a Luisão, falta a segunda.

Falta pouco mais de uma semana para a Supertaça e não nos parece que a contratação de Danilo possa vir resolver as questões que neste momento se afiguram mais presentes, a falta de opções para jogo interior em organização ofensiva e uma dupla de centrais que consiga ler o jogo atempadamente em função do bloco alto utilizado e que tenha velocidade de deslocamento para compensar o espaço atrás dos laterais em organização/transição defensiva.

Bayer Leverkusen-Porto

O Porto continuou a sua pré-época por terras europeias optando por defrontar uma equipa que apesar de pertencer a um campeonato muito mais competitivo que o português, está ainda num estado mais atrasado de preparação sendo visíveis os efeitos das cargas físicas e do pouco tempo de treino, visto que os jogadores do Leverkusen apresentaram-se pesados e com pouco entrosamento. Ainda assim, um adversário com tanta qualidade levantou algumas situações interessantes para o Porto resolver.

As equipas alinharam com:

Leverkusen 4-4-2
Ozcan
Hilbert (Akkaynak 74'), Toprak (Cacutalua 82'), Papadopoulos (Ramalho 45') e Henrichs
Bellarabi (Öztunali 64'), Çalhanoglu (Yurchenko 64') (Havertz 76'), Kampl e Brandt (Mehmedi 45')
Volland (Schreck 74') e Chicharito (Pohjanpalo 64')

Porto 4-3-3
Casillas (José Sá 45')
Maxi Pereira (Varela 45'), Felipe (Chidozie 64'), Marcano (Reyes 64') e Layún (Aboubakar 64')
André André (Evandro 45'), Herrera (Rúben Neves 45') e Bueno (João Carlos Teixeira 45')
Otávio (Alex Telles 45'), Corona (Brahimi 45') e André Silva (Adrian Lopez 45')

0-1 André Silva 8'; 1-1 Chicharito 58'

A grande novidade deste jogo verificou-se na primeira parte pela inversão do triângulo de meio-campo. Habitualmente o Porto jogou sempre com um médio mais defensivo e dois interiores e nesta primeira parte foi possível ver um duplo-pivot defensivo com Herrera e André André, com Bueno solto para a criação. Na segunda parte, Rúben Neves e Evandro mantiveram essa experiência de Nuno Espírito Santo, sendo previsível a escolha desta opção em jogos de maior grau de dificuldade.

O Porto adiantou-se cedo no marcador na sequência de uma jogada rápida com um lançamento para o flanco esquerdo, tendo Otávio ganho o duelo ao defesa alemão e centrado para um André Silva que, completamente desmarcado no centro da área, limitou-se a encostar. A partir daí o Porto assumiu uma postura mais defensiva  cedendo a bola ao adversário e variando a zona onde exercia a pressão. Com um Casillas mais ao nível habitual, o Porto foi conseguindo suster as iniciativas alemãs, sendo que aqui ou ali tentavam o contra-ataque, tendo André Silva uma oportunidade clara para o aumentar a vantagem após um lançamento em profundidade que terminou com um chapéu ao guarda-redes.

O resultado da primeira parte mostrava uma vantagem portista devido a uma maior eficácia na concretização das oportunidades. Conforme foi dito, esta deverá ser uma opção que NES utilizará contra equipas mais poderosas e que assumam as rédeas do jogo. O principal problema continua a ser a excessiva preocupação com o portador de bola e com as referências individuais, bem como uma pressão que não visa tapar as linhas de passe. Perante adversários mais rotinados deste nível, continuam-se a verificar-se desequilíbrios que normalmente na Liga dos Campeões se traduzem em golos.

As mexidas efectuadas por NES ao intervalo, agudizaram o domínio dos alemães, com o problema adicional do Porto dar muito espaço dentro do bloco o que permitia combinações curtas aos adversários. Num desses lances e após uma má abordagem de Filipe, Chicharito acabou por ficar na cara de José Sá e não perdoou ao contrário do que tinha feito na primeira parte.

Após o golo e com a entrada de Aboubakar por um lado, que se afirmou como uma referência a receber a bola e esperar pelos colegas o que permitiu a subida da equipa no terreno e as substituições no Leverkusen por outro lado, com a consequente quebra de qualidade e ritmo, o jogo tornou-se mais dividido e seria o Porto a ter a última grande ocasião quando Aboubakar se deixou desarmar in extremis quando se preparava para finalizar uma jogada no interior da área alemã. Na segunda parte foi curioso ver a adaptação de Layún a extremo esquerdo, mostrando toda a sua polivalência e qualidade nas diferentes posições que vai ocupando.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Sporting-Villarreal

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Ontem pretendemos acompanhar o Sporting no Troféu Ibérico mas não foi possível. Não foi possível porque nos primeiros 10 minutos a Sporting TV teve problemas com a recepção do sinal e não nos foi possível perceber como foi a abordagem de Jorge Jesus perante um adversário que na época passada fez uma grande temporada em Espanha, ficando no 4.º lugar, apurando-se para as pré-eliminatórias da Champions, apenas atrás de Barcelona, Real e Atlético de Madrid.

O Sporting alinhou com:

Azbe Jug
João Pereira, Coates, Naldo e Jefferson
Petrovic, Bryan Ruiz, Iuri Medeiros e Bruno César
Alan Ruiz e Barcos

Segundo o treinador Jorge Jesus a equipa mostrou estar melhor defensivamente embora ofensivamente ainda esteja abaixo do exigível. Em nosso entender, com a volta de William Carvalho, Adrien e João Mário, com a deslocação de Bryan Ruiz para a posição que tem sido essencialmente ocupada por Bruno César e com a melhoria de forma de Slimani, o Sporting tem todas as condições para se apresentar a um nível igual ou superior ao da época passada, visto que se mantém a grande maioria dos jogadores bem como o treinador, pelo que será quase como recomeçar onde tinham acabado o campeonato.

O grande obstáculo a este cenário será a realização de eventual ou eventuais transferências que impliquem a saída de um ou mais titulares. Os pontos a melhorar são os mesmo da época passada, os dois defesas laterais e o central que faz parelha com Coates.

Os resultados nunca são o mais importante na pré-época, mas já se verificou uma melhoria ao longo dos 90 minutos. Voltamos a realçar que os adversários nacionais são de uma qualidade inferior aos adversários que o Sporting tem defrontado, mas apresentam também desafios diferentes em termos de jogo e talvez fosse prudente realizar também alguns desafios com adversários que se posicionem essencialmente numa postura mais defensiva.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Danilo no Benfica, Rafa no Porto

Segundo as notícias dos últimos dias, o Braga prepara-se para ver sair do seu plantel dois jogadores destinados a Benfica e Porto que poderiam contribuir para uma boa época do Braga quer no campeonato quer nas competições europeias. Embora habituado a estas situações, de certeza que José Peseiro não gostou destes desenvolvimentos. E para os clubes que os vão buscar, poderão os atletas constituir-se como uma mais-valia?

Danilo é um médio-defensivo de raíz, com um toque de bola razoável, bastante faltoso e que depois de uma aposta inicial no Valência foi desaparecendo do onze titular. Vai encontrar no Benfica a concorrência de Fejsa, Samaris e Celis. Fejsa como se sabe é um jogador muito martirizado pelas lesões, pelo que nunca se sabe se pode ter regularidade na época. Enquanto estiver em condições físicas ideais, Fejsa não perderá o seu lugar.

Samaris depois de uma época em que perdeu fulgor, em especial com a subida à titularidade de Fejsa, poderá sentir-se tentado a sair. Posicionalmente e em termos de leitura de jogo é muito inferior a Fejsa, ou seja, quer na Organização, quer na Transição Defensiva, Samaris não se aproxima das competências de Fejsa. No entanto, Samaris tem maior acutilância quer em Organização Ofensiva, mas especialmente em Transição Ofensiva. Com um perfil de maior risco, Samaris, opta por passes verticais que queimam linhas, arriscando muito mais e obviamente tendo uma menor eficácia de passe. Fejsa é pouco útil no processo ofensivo, recuando para o meio dos centrais e fazendo essencialmente passes horizontais e de diminuto risco. Nunca procura agredir o bloco, nem tem confiança para passes de grande risco, o que contra adversários que defendam em bloco baixo, o torna um pouco irrelevante no jogo, excepto no processo de reacção à perda de bola e para parar os contra-ataques adversários.

Celis chegou agora ao continente europeu e também mostra ter um perfil de médio defensivo, viril, muito centrado nos duelos individuais, um pouco à semelhança de Danilo quando chegou ao Braga. É preciso mais e normalmente este tipo de atletas ou aproveitam os treinos para irem desenvolvendo as suas competências, ou dificilmente terão muitas oportunidades.

A menos que exista alguma saída dos três elementos que mais habitualmente jogam a médio-defensivo, a contratação de Danilo é perfeitamente redundante. Para alternativa a André Horta, Danilo ainda parece ter poucas competências para essa função. Tem potencial e pode evoluir, mas não nos parece ser uma alternativa actualmente para Horta. Terá que apreender no treino a dinâmica da equipa para percebermos se se ode vir a constituir como uma boa alternativa.

Mais a norte, o Porto prepara-se para fazer a maior transferência entre clubes nacionais com a aquisição do extremo Rafa. Rafa tem bom toque de bola, muita velocidade, grande capacidade de desequilíbrio, mas ainda não está num patamar de topo em termos de decisão com bola. Jogando essencialmente do lado esquerdo, Rafa terá a concorrência, a menos que existam saídas, de Brahimi e Otávio.

Brahimi é um verdadeiro talento que foi perdendo fulgor quer com Lopetegui mas especialmente com Peseiro. Inteligente, com grande capacidade técnica e de desequilíbrio, Brahimi pareceu fadado a ser uma das transferências milionárias do Porto, mas o seu progressivo desaparecimento terá impedido este desiderato. Estando em forma, Brahimi estará claramente no top-5 dos jogadores no campeonato português. a questão e perceber se NES conseguirá motivar Brahimi e enquadrar no sistema de jogo do Porto.

Aproveitando o menor fulgor de Brahimi, Otávio tem mostrado a irreverência que  caracterizou em Guimarães, assumindo o jogo, criando desequilíbrios e mesmo muitas vezes finalizando de fora da área, embora sem grande sucesso. No futebol os estatutos têm um grande peso e muitas vezes os jogadores com mais estatuto, mesmo que em pior forma, são escolhidos para a equipa titular. Otávio terá que lutar contra esses estatutos demonstrando em campo que merece jogar em cada oportunidade que tiver em jogo e nos treinos no dia-a-dia. Otávio precisa ainda melhorar as decisões e jogar menos para brilhar individualmente e mais para que a equipa brilhe colectivamente.

Rafa, é neste momento, ou seja, era no final do campeonato passado, o jogador com melhor rendimento dos três. Uma transferência milionária poder-lhe-á dar o estatuto para competir com Brahimi pela posição em condições de igualdade. Com a sua chegada, eventualmente Otávio terá que procurar outras zonas de jogo para disputar a titularidade, talvez a interior ou eventualmente deslocar-se para a direita como alternativa a Corona.

Ambos os jogadores Danilo e Rafa, especialmente o segundo, têm potencial para se afirmarem nas equipas no caso de se confirmarem as suas transferências, mas nem um, nem outro me parecem ir responder aos maiores desequilíbrios dos plantéis.

domingo, 24 de julho de 2016

Vitesse-Porto

Jogando contra um adversário de menor capacidade que o PSV, Nuno Espírito Santo optou por fazer alinhar os jogadores de campo que tinham terminado contra o PSV para distribuir mais minutos de jogo competitivo por diferentes jogadores. A estreia de Iker Casillas nesta temporada foi a nota de maior destaque.

Vitesse 4-4-2
Room
Leerdam (Yeini 84'), Kashia, Van der Werff e Ota (Van Bergen 80')
Nakamba, Vako, Baker e Rashica
Zhang e Foor (Kruiswijk 80')

Porto 4-3-3
Casillas
Varela (Maxi Pereira 71'), Chidozie, Diego Reyes e Miguel Layún (Alex Telles 71')
Rúben Neves (Herrera 71'), Josué (Bueno 45') André André (João Carlos Teixeira 71')  
Hernâni (André Silva 45')Aboubakar (Corona 71') e Brahimi (Otávio 71') 

1-0 Baker 17'; 1-1 Corona 79', 1-2 André Silva (penalty) 83'

Assumindo uma postura mais dominante, apenas nas bolas paradas pareceu este Porto capaz de verdadeiramente causar incómodos à defesa holandesa durante a primeira parte. Nesse aspecto particular destacou-se Chidozie, embora sejam evidentes as suas limitações técnicas na execução dos cabeceamentos. Para além destes lances, Chidozie destacou-se, mas negativamente, na forma como abordou os lances defensivos, com várias entradas mal calculadas que criaram desequilíbrios defensivos e até estiveram na base do golo dos holandeses.

Mas mal também esteve Casillas, embora a sorte o protegesse mais que ao jovem nigeriano, pois por duas vezes viu os postes salvarem más intervenções. Novamente se observou que as tentativas de recuperação de bola no meio-capo adversário, pressionando inclusivamente junto à área, embora possam ter retorno elevado, também comportam risco máximo, visto que a equipa fica demasiado comprida e abrem-se espaços para transições rápidas com futebol apoiado.

Mesmo em organização defensiva, continua a haver demasiado espaço entre a linha defensiva e a linha média, o que permite aos adversários receber as bolas e enquadrarem sem grandes problemas. A posição de Rúben Neves mais atrasada face ao outro médio que fecha ao meio, visto que o Porto defende em 4-4-2, ajuda a retirar algum espaço, pois pode aparecer em cobertura, mas como se viu contra o PSV, contra equipas que tirem bem a bola da zona de pressão, vão aparecer espaços significativos, muitas vezes no corredor central, devido à tentativa de sobrecarregar o lado da bola.

Outro aspecto que não nos parece muito interessante é a excessiva reacção ao portador da bola, em vez de se defenderem quer os espaços, quer eventuais linhas de passe. Estes são dois factores que contribuem para uma pressão menos eficaz e que contra equipas de nível elevado pode traduzir-se em grandes dissabores. Individualmente, Brahimi apareceu um pouco mais ligado ao jogo, Josué, criou grandes desequílibrios em dois lances, mas infelizmente parece não ter a cabeça no Porto. Rúben Neves assegura uma saída de bola muito interessante como médio defensivo e Aboubakar mostrou estar apostado em conquistar a titularidade como referência central do ataque portista.

Na segunda parte, com as entradas de Bueno e André Silva, o Porto começou a tomar conta do meio-campo e a criar mais ocasiões, apesar de uma deficiente saída de Casillas a um cruzamento ter dado a hipótese para o 2-0, que não se concretizou porque o remate do chinês Zhang acertou na barra. O maior dinamismo de Bueno e uma maior qualidade de André Silva deram outra dimensão ao jogo do Porto.

As substituições operadas aos 71 minutos em conjunto com a quebra física de um conjunto que ainda não tinha feito substituições permitiram ao Porto sufocar o Vitesse e começar a criar oportunidades pelo que o empate que se adivinhava chegou aos 79', quando num canto Chidozie aproveitou uma bola ao segundo poste e cruzou atrasado para Corona finalizar com um remate sem deixar a bola cair. O técnico holandês fez de imediato duas substituições mas o cariz do jogo já não se alterou e aos 82 minutos após uma jogada de insistência de Maxi Pereira, Van der Werff meteria mão à bola e o árbitro assinalou penalty, ao contrário de um lance no final da primeira parte. André Silva fez o golo da vitória e daí até ao fim apenas se registaria mais uma substituição no lado holandês.

O Porto ganhou bem um jogo que dominou durante grande parte do tempo aproveitando a debacle física do adversário. Ofensivamente, Otávio e Maxi Pereira dão grande dinâmica nas alas e João Carlos Pereira e Herrera mostram já um bom nível de entrosamento. Embora tenha marcado o penalty de forma imaculada, André Silva parece necessitar de mais confiança, pois nem sempre finaliza da forma que mais se adequa. O processo de maturação deste jovem avançado pode ser um factor negativo para o Porto se se colocar demasiado ênfase nos golos que marque ou deixe de marcar.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

PSV-Porto

Por várias limitações só ontem foi possível ver pela primeira vez o Porto na pré-época. Uma agradável surpresa a forma como a equipa treinada por Nuno Espírito Santo aborda o jogo. O resultado traduz, à semelhança do que aconteceu com o Sporting, o avanço no preparação que o PSV demonstra ter, pelo que não é motivo para qualquer preocupação o resultado obtido.

Na verdade, o Porto controlou o jogo em grande parte do jogo, no entanto mostrou um pouca assertividade no último terço do terreno. Além disso, somou alguns erros individuais na defesa que foram aproveitados pela equipa holandesa para construir um resultado que pouco traduz o que se passou em campo.

PSV 4-3-3
Zoet
Brenet, Isimat, Moreno (Schwaab 61') e Willems
Guardado (Maher 61'), Pröpper e Hendrix
Narsingh (Beto da Silva 84'), De Jong e Pereiro (Locadia 84')

Porto 4-3-3
José Sá
Maxi Pereira (Varela 74'), Felipe (Chidozie 74'), Marcano (Reyes 74') e Alex Telles (Layún 74')
Evandro (Rúben Neves 45'), Herrera (André André 74') e João Carlos Teixeira (Josué 74')
Corona (Ricardo Pereira 74'), André Silva (Aboubakar 74') e Otávio (Brahimi 74')

1-0 Pröpper 24', 2-0 Filipe (autogolo) 34'; 3-0 Maher 76'

Muito interessante a escolha de NES para um trinco com capacidade de construção de jogo com Evandro na primeira parte e Rúben Neves na segunda parte. João Carlos Teixeira mostrou uma grande qualidade e promete ser uma revelação do campeonato. Bom toque de bola, boa visão de jogo, muito associativo, bons passes verticais, compromisso defensivo. Otávio será porventura mais vistoso para a generalidade do público pois provavelmente somará mais golos e assistências, mas será, provavelmente, menos determinante na construção e criação de jogadas.

Nas alas Corona e Brahimi parecem trazer a má forma da época passada, estando provavelmente aberto o caminho para a titularidade de Otávio nas primeiras jornadas. Na defesa, há muito trabalho para fazer, em especial entre os centrais e o lateral esquerdo Alex Telles. Filipe que esteve desastrado contra o PSV, tendo culpas objectivas nos dois primeiros golos, precisa entender que na Europa não há tempo para desatenções ou para abordagens deficientes. Alex Telles também mostrou dificuldades perante um extremo mais virtuoso estando pouco em jogo em termos ofensivos obrigando a que, no seu flanco, a largura fosse dada ora por Otávio ora por João Carlos Teixeira.

Mas se estes erros são relativamente fáceis de corrigir, incluindo as más abordagens de Alex Telles e Filpe, há outro problema mais difícil de corrigir. Várias vezes foi visível a criação de espaços entre os elementos da última linha defensiva devido aos defesas reagirem demasiado ao homem com bola, desposicionando-se e não havendo compensações dos colegas, nem do médio mais defensivo. É possível que este problema seja facilmente resolvido com a entrada de Danilo para a posição de médio-defensivo, mas o perfil deste jogador altera significativamente a forma de construção que o Porto demonstrou.

O Porto mostrou ainda pretender fazer uma pressão muito alta, inclusivamente com três elementos a colocarem-se junto à área adversária, por forma a tentar recuperar a bola numa zona muito favorável. Por vezes estes três elementos têm a ajuda dos dois interiores ou do interior do lado da bola e do médio-defensivo, ou seja coloca 5 elementos no meio-campo adversário a tentar recuperar a bola.

Esta opção dará, com toda a certeza, muitos frutos no campeonato nacional onde as equipas não têm qualidade para trocar a bola e optarão por bater longo onde os 4 defesas terão vantagem perante os avançados adversários. No entanto, perante as melhores equipas, por exemplo equipas de Champions, as trocas de bola com qualidade e a disposição demasiado comprida da equipa são uma fragilidade que originará transições muito perigosas. Aliás, o facto de os jogadores reagirem demasiado ao portador da bola, faz com que tenham sido várias vezes batidos com tabelas, o que mostra que equipas que ataquem através de triângulos podem criar desequilíbrios significativos.

Em organização defensiva, o Porto defende num 4-4-2, com João Carlos Teixeira a fechar ao meio junto do médio-defensivo, Herrera a fechar à direita, Otávio à esquerda e Corona e André Silva a tentarem condicionar os defesas. No entanto muitas vezes devido ao posicionamento profundo da última linha e à tentativa de sobrecarga na zona da bola, aparecem muitos espaços na zona central. Várias vezes a linha média também se mostrou muito afastada da linha defensiva, criando muitos espaço dentro do bloco para os avançados adversários receberem e decidirem.

Mas viu-se outra fragilidade, com a equipa optando por um posicionamento mais profundo com as duas linhas de 4 bem dentro do seu meio-campo e os dois avançados na zona do círculo central e como o Porto tende a reagir muito ao portador da bola, com os jogadores a saírem a tentar pressionar o portador da bola para a recuperar, esses jogadores têm que fazer constantemente sprints de 10, 15 metros, o que normalmente dá tempo ao defesa para tomar uma decisão antes do jogador do Porto chegar. Novamente, esta opção pode ter resultados no campeonato português, mas a um nível superior, dificilmente terá como se viu durante o jogo.

O Porto mostrou ainda uma boa capacidade de reacção à perda da bola, mas alguma dificuldade nas transições defensivas quando o PSV trocava bem a bola. As consequências foram algumas bolas recuperadas no meio-campo adversário, mas também, algumas transições muito perigosas do PSV, quando a primeira fase de pressão era batida. A solução para esta questão passará por um bloco mais alto, evitando que os defesas afundem tanto e se criem os espaços derivado do comprimento a equipa.

Ofensivamente, os laterais pouco se projectam na primeira fase de construção, entrando a bola num dos três médios que optam ou por passes verticais, normalmente Evandro/Rúben Neves e João Carlos Teixeira, ou por lançamentos para as alas sendo Herrera quem mais se destaca neste aspecto. Algumas vezes variam as opções, optando por um jogo mais curto e com menos verticalidade.

Na fase de criação, dada a boa qualidade dos médios e avançados, o Porto consegue manter a posse até poder fazer uma solicitação na profundidade. Se esta opção não aparecer, João Carlos Teixeira e Herrera buscam a referência André Silva dentro do bloco, ou abrem o jogo para que sejam os alas a buscar essa referência central. Maxi Pereira incorporou-se sempre no ataque, ao contrário de Alex Telles que se mostrou mais reservado. Se Maxi na primeira parte serviu para dar largura, na segunda parte já procurou as diagonais para o meio.

Há muito trabalho para fazer e há muito tempo (mais de 3 semanas) para o fazer. A grande dúvida será se NES mudará o perfil do médio-defensivo, o que alterará significativamente a forma de construção, pois obrigará os interiores a recuarem muito mais para pegarem no jogo. De todos os jogadores em campo, João Carlos Teixeira mostrou que pode ser a grande surpresa portista. Talvez a estrutura portista considere que André Silva não terá capacidade para ser o titular, pelo que pode entrar ainda um avançado que altere a organização e transição ofensiva.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sheffield Wednesday-Benfica

Ao terceiro jogo perante o público, a equipa de Rui Vitória somou a primeira derrota. Perante um adversário teoricamente mais fraco mas mais adiantado na preparação, a equipa benfiquista começou por assumir o favoritismo teórico. No entanto, ainda durante a primeira parte a equipa de Carlos Carvalhal inverteu o sentido do jogo tendo chegado à vantagem antes do intervalo. Na segunda parte, o Sheffield Wednesday defendeu-se competentemente e o resultado já não se alterou.

Sheffield Wednesday
Wildsmith
Hunt, Lees, Hutchinson e Palmer
Wallace (Vermije 63'), Lee (Filipe Melo 76'), Bannan e Marco Matias (Semedo 72')
Lucas João (Helan 83') e Forestieri 22' (Nuhiu 63')

Benfica
Paulo Lopes
Nélson Semedo (André Almeida 45'), Luisão (Lisandro Lopez 63'), Jardel e Grimaldo (Carcela 82')
Fejsa (Samaris 63'), André Horta (Celis 45') (Zivkovic 82') (Jovic 89'), Salvio (Pizzi 45'), Cervi (Carrillo 45')
Benítez (Gonçalo Guedes 45') e Rui Fonte (Mitroglou 45')

1-0 Forestieri aos 22 minutos após trabalho individual em que tirou Luisão da frente

Os primeiros minutos pareceram o jogo disputado contra o Vitória de Setúbal com o Benfica a assumir o jogo mas sem criar qualquer perigo efectivo. A dupla Benitez-Fonte é muito esforçada mas não se mostra capaz de criar perigo sempre que a dificuldade aumenta um pouco. Não tem ajudado as fracas exibições de Salvio que continua a mostrar-se muito pesado, sem explosividade, sem capacidade de desequilíbrio e sem confiança. Salvio esteve em destaque frente ao Derby County, mas a verdade é que semre que o adversário era mais exigente, salvio apagou-se no individualismo e nas perdas de bola.

Defensivamente, os primeiros testes que o Sheffield fez foi através de bolas longas para as costas de Grimaldo aproveitando quer o adiantamento deste no terreno, quer uma linha defensiva muito insegura que por não estar alinhada contribuía para a criação de espaços nas costas dos laterais. No entanto, Grimaldo deu sempre uma boa resposta na transição defensiva e conseguiu sempre, com maior ou menor dificuldade, resolver os problemas. Perante este cenário, o Sheffield optou por variar o flanco e começou a meter bolas longas entre Semedo e Luisão.

E foi nesta zona que o Sheffield encontrou o seu pote de ouro. Depois de uma primeira tentativa sem resultado, devido ao remate ter sido defendido por Paulo Lopes, à segunda vez, Forrestieri soube tirar Luisão da sua frente e marcar sem dificuldades. Este golo contribuiu para um momento de desnorte de Luisão que teve uma perda de bola em zona comprometedora e teve que fazer uma falta punida com amarelo aos 27 minutos, que num jogo oficial seria vermelho. Progressivamente o Benfica foi readquirindo o domínio do jogo, mas sem criar situações de perigo.

A dupla Luisão-Jardel mostrou falta de entendimento na subida e descida da última linha o que numa primeira fase criou áreas em que as bolas podiam entrar atrás dos laterais e numa segunda fase para evitar esta situação implicou a baixa do bloco para um bloco médio-baixo ao contrário do apresentado até aqui. Grimaldo voltou a impressionar com os seus movimentos ofensivos, quer por fora oferecendo largura, quer por dentro na procura de combinações interiores, mostrando ser um dos atletas mais em destaque até agora.

Horta fez um ogo fraco, como fez Fejsa ou Celis quando ocuparam a posição 8. Não sei se há uma mudança táctica em termos das funções da posição 8, em que o médio apenas circula a bola por fora tentando acelerar a mudança de flanco, se a responsabilidade é dos avançados e dos extremos que não procuram receber dentro do bloco adversário. Cervi, Salvio, Benitez e Guedes não têm o perfil para fazer esse tipo de jogo, ao invés de Pizzi, Carrillo ou Mitroglou. Fonte tem esse perfil, mas mostra muitas vezes algumas dificuldades em libertar-se dos defesas e dar bom seguimento ao jogo.

Com a entrada na segunda parte de três elementos com esse perfil, mas com a saída de André Horta e a entrada de Cellis para o lado de Fejsa, deixou de haver nestes dois elementos quem tenha o perfil para fazer isso, colocar passes verticais dentro do bloco, ou conduzir, atrair, fixar e soltar. Claramente Cellis não tem o perfil para jogar na posição 8, a menos que aprenda muito, muito rapidamente. A posterior entrada de Samaris veio alterar esta situação, mas Samaris tem um menor acerto no passe e portanto várias bolas perdem-se devido a más execuções técnicas.

Pizzi, Carrillo e Mitroglou jogam um jogo, mas Guedes joga outro completamente diferente, lembrando o tipo de jogo de Salvio, pouco associativo e muito centrado na sua capacidade de desequilibrar através da rapidez com que ganha a linha e cruza para trás, ou que ganha espaço para rematar. Cervi embora procure um jogo mais associativo que Guedes ou Salvio, joga de uma forma demasiada caótica percorrendo todos os lugares e não estando às vezes onde é necessário para que funcione com apoio. Com bola promete, mas sem bola tem muito que aprender.

Zivkovic entrou perto do fim, mas rapidamente se lesionou, pelo que não é possível ter grande opinião sobre o mesmo, dando a ideia que é o mais atrasado na corrida à titularidade. Carcela, fruto do excesso de concorrência, teve que entrar para a lateral-esquerda, mas também jogou demasiado pouco para se formar uma opinião. Se Zivkovic dá a ideia de estar atrasado, Carcela dá a sensação de nem contar para Rui Vitória como uma opção para as alas.

Este jogo trouxe novos problemas a nível defensivo devido à descoordenação da linha, mas manteve os problemas detectados em organização ofensiva que se verificaram contra o Vitória de Setúbal. Muita circulação por fora, muito jogo nas alas, o jogo interior muito impreciso devido a más execuções técnicas. Há muito trabalho pela frente para Rui Vitória, mas à semelhança do Sporting, não existe qualquer motivo de preocupação neste momento. A situação que parece ser mais urgente de resolver é a questão da forma de jogar do número 8. André Horta tem o perfil para fazer essa função, mas no plantel, poucos mais elementos parecem poder fazê-lo.  Uma eventual lesão e o Benfica poderá ver-se  perante um desafio bastante complicado.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sporting - notas após o estágio

Os resultados das pré-épocas tendem a ser exagerados pelos adeptos. Trabalhar sobre maus resultados pode traduzir realidades diferentes:

- Adaptação a um modelo de jogo diferente
- Falta de qualidade do plantel
- Confronto contra adversários de qualidade superior ou mais adiantados na preparação
- Desgaste originado pela intensidade dos treinos

Seja qual for o peso destas razões na justificação dos resultados, algo que só o treinador poderá saber com maior exactidão, é observável que houve várias questões diferentes:

- Os guarda-redes que jogaram, talvez pela sua juventude, quando se viram perante resultados adversos, tiveram falhas que derivam da falta de confiança, tão gritantes que foram. Não é possível que o seu nível seja tão baixo quanto o demonstrado, porque nem para a equipa B mostraram ter qualidade. Aze Jug e Stojkovic não mostraram ser soluções caso tenham que avançar para a titularidade.

- Na lateral-direita, João Pereira e Schelotto mostraram não ter ritmo para acompanhar os adversários, pois se por um lado se incorporaram bem no ataque e João Pereira até marcou um golo, na transição defensiva foram sempre ultrapassados. Em organização defensiva, mostraram-se a um nível ligeiramente melhor, basculando quando necessário, apesar de João Pereira se ter deixado antecipar após uma defesa de Stojkovic no que resultaria no terceiro golo do PSV.

- Na lateral-esquerda o desempenho foi muito pobre. Jefferson esteve simplesmente horrível, ultrapassado em transição defensiva, ultrapassado em organização defensiva, muito fraco em organização e transição ofensiva, um estágio par esquecer. Zegelaar embora não tão fraco como Jefferson também não teve um grande desempenho e Bruno César que na época passada foi uma escolha frequente para a posição, mas que neste estágio pouco tempo lá jogou, foi o menos mau dos três jogadores.

- No centro da defesa observaram-se grandes problemas. A generalidade dos jogadores parece ter-se esquecido de como as equipas de Jorge Jesus defendem. Constantes desposicionamentos, demasiada atenção aos adversários directos, poucas coberturas aos laterais, muito espaço entre os centrais, isto sem mencionar más abordagens a alguns lances. Com bola no pé, pouca condução para atrair, poucos passes verticais. Muito trabalho para Jorge Jesus. Coates e Semedo terminaram a época na frente e nada do que os outros jogadores fizeram no estágio, Naldo, Ewerton e Paulo Oliveira, justifica qualquer mudança.

- À frente da defesa, muita falta fez William Carvalho. Petrovic e em especial Palhinha, foram incapazes de proteger o espaço à frente dos centrais deixando entrar demasiadas bolas dentro do bloco permitindo os adversários terem tempo para dar seguimento às jogadas e foram incapazes de oferecer as coberturas aos laterais, fechando o espaço, sempre que estes eram atraídos para as linhas laterais. Como nem o central, nem o trinco ofereciam a cobertura ao lateral, fazendo uma nova linha de contenção, a defesa ficou sempre demasiado exposta. Na reacção à perda da bola, Petrovic foi mais assertivo, embora falhando na maioria dos tempos de entrada o que originou muitas faltas. Palhinha ao invés deixou que os contra-ataques seguissem. Com bola, Petrovic pareceu ser superior, procurando-se associar aos colegas e fazer alguns passes verticais para quebrar as linhas adversárias.

- A posição 8 no modelo de Jorge Jesus é uma posição-chave no modelo, pois implica uma dupla tarefa, na transição ofensiva dar qualidade à saída de bola e na transição defensiva ser capaz de cortar linhas de passe, de compensar o movimento do médio-defensivo e aquando da perda de bola, ter uma forte reacção à perda, fazendo uma imediata pressão na tentativa de recuperação de bola no meio-campo adversário. Também nesta posição muito se sentiu a falta de Adrien. Se por um lado Bryan Ruiz, oferecia maior qualidade na saída de bola, por outro lado a sua falta de agressividade defensiva, fazia com que pouco apoio prestasse ao médio-defensivo que também já andava perdido nas transições defensivas. Aquilani não mostrou grande competência em ambas as tarefas, embora fosse melhor na organização ofensiva. O seu desempenho ficou muito aquém do desejado. Aquando da sua expulsão contra o PSV, Iuri Medeiros teve que ocupar esta posição temporariamente, dos 34 minutos até ao intervalo sentido algumas dificuldades em organização e transição defensiva. Ryan Gauld jogou apenas 8 minutos o que não permitiu ter qualquer ideia sobre o seu enquadramento, apenas que não conta para Jorge Jesus.

- Na ala direita, Gélson Martins destacou-se mais que Iuri Medeiros, no entanto, em momento algum mostrou ter capacidade para disputar o lugar a João Mário. Iuri é mais associativo, ao estilo de João Mário, enquanto Gélson procura mais o desequilíbrio individual. Podence quando desviado para esta posição foi mais refém do mau momento da equipa do que culpado de uma exibição um pouco descolorida quando comparada quando jogou a segundo avançado.

- Na ala esquerda Matheus Pereira e Bruno César também não deslumbraram nem fizeram esquecer o que Bryan Ruiz fez durante a época passada. Matheus Pereira procura mais o desequilíbrio individual, à semelhança de Gélson e à semelhança deste consegue-o fazer com alguma facilidade, embora pareça que depois se acaba por perder em dribles em vez de procurar associar-se com os colegas, criando desequilíbrios colectivos.

- Na frente do ataque brilhou Podence, o único elemento que aproveitou os jogos do estágio para marcar a sua posição. A sua recepção orientada, o mostrar-se para receber dentro do bloco, a procura da profundidade, a visão de jogo, ofereceram a grande maioria dos poucos bons momentos que o Sporting mostrou na Suíça. Alan Ruiz, um pouco pesado mostrou pormenores interessantes, quer em drible, quer na capacidade de remate. Barcos, não mostrou ser um avançado goleador, não se sabendo se porque o Sporting não criou o suficiente para se afirmar, até porque mostrou ser um jogador inteligente que soube associar-se e dar aos colegas as hipóteses de marcarem. Spalvis estava a fazer um jogo muito apagado quando se lesionou com alguma gravidade, pelo que é difícil ter uma opinião. Slimani pareceu não estar com a cabeça na Suíça, sendo um avançado determinante, quer pelo número de golos, quer pelos movimentos que faz no ataque do Sporting, deverá a sua situação ser esclarecida para que, caso fique, volte aos desempenhos da época anterior. Só faltou Teo, que vai participar nos Jogos Olímpicos, embora não considero que se tenha sentido a falta do colombiano, tão bem que Podence jogou como segundo avançado.

Quatro jogos, três derrotas contra equipas do nível Champions de segunda linha e uma vitória contra uma equipa da terceira divisão suiça. Seis golos marcados e catorze sofridos. No campeonato português o Sporting encontrará no máximo seis jogos com o grau de dificuldade que enfrentou na Suíça, pelo que em termos de dificuldade este estágio é pouco relevante para a realidade nacional. As três equipas estavam com níveis de preparação mais avançados, pelo que é natural que essa diferença de preparação se vá atenuando à medida que decorre a pré-época.

Os quatro jogadores que disputaram o Euro, caso não saiam entram sem dificuldade no onze titular e implicam inclusivamente a deslocação de Bryan Ruiz da posição 8 para uma das alas. Sem quaisquer alterações no plantel, é possível acreditar que o onze titular do Sporting no início da época seja:

Patrício;
Schelotto, Coates, Semedo e B. César
William Carvalho, Adrien, João Mário e B, Ruiz
A. Ruiz (Podence) e Slimani

As notícias de hoje indiciam que Jorge Jesus estará insatisfeito e já terá definido alvos específicos para reforçar algumas posições, pelo que é possível que o presente quadro deixe de estar válido aquando a época comece. Além disso, todos os dias há notícias sobre eventuais saídas de jogadores. Não havendo alterações significativas, não existe razão para que o Sporting apresente um nível diferente do que o demonstrado quando acabou a época passada, pelo que os resultados de pré-época pouco relevantes são, excepto para as conversas de adeptos.

Edit: Ryan Gauld foi emprestado conjuntamente com André Geraldes ao Vitória de Setúbal confirmando a ideia que efectivamente não conta para Jorge Jesus

Lippstadt 08-Bayern Munique

Assistir ao primeiro jogo do Bayern para se tentar perceber as diferenças que a saída de Pep Guardiola e a entrada de Carlo Ancelotti trouxeram à equipa mesmo num encontro contra um adversário da Oberliga seria porventura mais fácil caso não se tivessem realizado competições de selecções durante o meses de Junho e Julho. Onze ausências, desde o guarda-redes Neuer ao avançado Lewandovsky, dariam perfeitamente para fazer toda uma equipa competitiva e de qualidade.

O Bayern alinhou com:

Ulreich
Rafinha, Felix Goetze, Javi Martinez e Bernat
Lahm, Xabi Alonso e Benko
Robben, Julian Green e Ribery.

Robben foi o primeiro a sair aos 35 minutos e por lesão, já o Bayern ganhava por 3-0 tendo inclusivamente apontado um golo aos 6 minutos. Os outros golos foram marcados por Julian Green aos 9 e Ribery aos 33 minutos. Javi Martinez, Bernat e Ribery sairiam ao intervalo e Rafinha, Lahm e Xabi alonso saíriam aos 62 minutos quando o resultado estava em 2-4. De facto as substituições efectuadas diminuíram significativamente a qualidade de jogo do Bayern. No final do jogo, o resultado de 3-4, embora lisonjeiro para o Bayern pela paupérrima segunda parte, não representava a diferença entre o valor das equipas que entraram em campo.

O Bayern entrou com um 4-3-3, com Rafinha inicialmente a lateral-direito e Lahm a médio-defensivo no duplo pivot com Xabi Alonso, mas que por volta dos 35 minutos trocaram de posições e nelas se mantiveram até à sua saída aos 62 minutos. Com Julian Green como referência no ataque e Ribery na esquerda e Robben na direita, a atacaram os espaços atrás dos defesas e a virem para dentro, o Bayern pareceu ser uma mistura entre o modelo de jogo de Guardiola, com muita posse e troca de bola, com o existente pré-Guardiola, as desmarcações nas costas dos defesas pelos desequlibradores Robben e Ribery.

No entanto é muito difícil perceber como irá mudar a equipa com a vinda, em especial de Muller, que não deverá ser a referência central, pois esse papel deve caber a Lewandovsky, nem ser um médio ofensivo como jogou Benko, à frente do duplo-pivot. Deu a sensação que na segunda parte, no início, o Bayern experimentou um 4-4-2, mas tendo em conta que os elementos em campo pouco fizeram para justificar a sua presença, tornou-se difícil perceber se era um 4-3-3 assimétrico se um 4-4-2 também assimétrico.

Se o início da segunda parte já mostrou ser desinteressante pela saída de alguns jogadores que lutarão pela titularidade, a partir dos 62 minutos perdeu totalmente o interesse, pois a equipa estava perfeitamente ao nível do adversário. Para quem não sabe, a Oberliga é a 5.ª divisão alemã. O mais curioso foi ver que uma equipa da Oberliga, mesmo sabendo ser muito inferior ao Bayern de Munique, que de início apenas tinha 3 jogadores que não deverão contar durante a época, Ulreich, Felix Goetze e Benko, procurou sempre sair com a bola controlada e chegou a criar três jogadas de perigo na primeira parte.

Renato Sanches terá muita concorrência, Alonso, Thiago, Rafinha, Javi Martinez, Vidal, Kimmich e até Lahm, na luta pela titularidade de um dos lugares do meio-campo. Dependendo muito da gestão que Carlo Ancelotti faça dos seus recursos, assim aparecerão, ou não, as oportunidades. As limitações físicas que Ribery e Robben, entretanto novamente lesionado, têm, parecem ser talvez o ponto mais fraco deste Bayern, visto que Douglas Costa e Kingsley Coman têm um perfil relativamente diferente.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Sporting-PSV

Fraca exibição do Sporting com muitos erros próprios e prejudicado por um ou dois lances de grandes penalidades. A nossa abordagem neste espaço será mais centrada sobre o que fazem os jogadores em campo e os treinadores no banco, do que em analisar e discutir arbitragens e lances à exaustão, pois para isso já existem muitos outros espaços.

Não que não se reconheça que a arbitragem não influencia os resultados, pois não só as decisões dos árbitros, as certas e as erradas, como também as decisões e execuções de jogadores e treinadores influenciam os resultados. Um árbitro não pode ver repetições e voltar atrás e apitar de forma diferente, como um jogador não pode voltar a rematar uma bola que tinha todas as condições para marcar e falhou, ou um guarda-redes voltar a tentar defender uma bola que deixou entrar.

Quem teve maior influência no resultado, o árbitro que não assinalou um penalty sobre Matheus Pereira ou um jogador que vendo um cartão amarelo na sequência desse lance por protestos, se faz expulsar 3 minutos depois com uma entrada dura e deixa a equipa com 10 jogadores, a perder por 2-0 e com quase uma hora de jogo pela frente? Esse é um tipo de discussão que pouco nos interessa.

Sporting 4-4-2
Stojkovic
João Pereira (Schelotto 63'), Naldo, Ewerton (Ruben Semedo 79') e Jefferson (Zeegelaar 63')
Palhinha (Gauld 85'), Aquilani, Matheus Pereira (Petrovic 45') e Iuri Medeiros (Gelson 63')
Daniel Podence (Bryan Ruiz 63') e Alan Ruiz (Slimani 63')


PSV 4-3-3
Zoet
Willems, Moreno (Schwaab 45'), Isimat (Koch 63') e Brenet
Hendrix (Vloet 63'), Maher (Guardado 63') e Pröpper (Lundqvist 63')
Pereiro (Narsingh 45'), De Jong (Jozefzoon 63') e Locadia

0-1 De Jong 5' (pen), 0-2 Locadia 21', 0-3 Hendrix 41'; 0-4 Maher 50'; 0-5 De Jong 55'

Como acima foi dito, foi uma exibição globalmente muito fraca do Sporting. A expulsão não justifica tudo, até porque os erros defensivos já se vinham somando antes da expulsão. O Sporting tem sentido grandes dificuldades com as ausências de William Carvalho e Adrien. Palhinha e Petrovic tem apresentado dificuldades na compensação dos defesas e isso tem criado espaços no corredor central, enquanto que as opções para médio ofensivo: Aquilani e Bryan Ruiz pouca ajuda dão ao médio defensivo tapando a zona à frente do centro da defesa.

Bastam umas quantas combinações dentro do bloco, alternando a entrada e a saída da bola do bloco, em especial quando é solicitado um flanco, os laterais têm saído na contenção, quando não são ultrapassados e a deficiente postura quer do médio defensivo, quer mesmo do médio ofensivo (posição 8) criam grandes dificuldades à defensiva do Sporting.

Ewerton e Naldo a reagirem mais aos adversários do que aos colegas, os laterais completamente fora dos jogos, o médio defensivo a chegar tarde para dar cobertura ao lateral ou ao central que sai ao adversário que ultrapassou o lateral, sem ajuda do outro médio centro, nem basculação dos defesas do lado contrário ao da bola e permanentemente existem espaços para finalizar  no corredor central. Para agravar a situação, a equipa do Sporting tem estado muito comprida defensivamente, com os sectores muitas vezes afastados, o que permite a entrada da bola dentro do bloco e o tempo e o espaço para o avançado dar seguimento à jogada.

Muito trabalho pela frente de Jorge Jesus. Há jogadores que pareceram esquecer os comportamentos do ano passado, há outros que ainda não os conhecem. Somando-se a isso, a ausência dos jogadores que estiveram presentes no Europeu e defrontarem equipas mais adiantadas na fase de preparação tem sido a receita para os insucessos sucessivos. Azbe Hug e Stojkovic também não podem ser isentados de culpas, mas com os jogos a correrem mal, é natural que jogadores pouco experientes, não consigam ter a confiança para fazerem no mínimo o que justifica a presença deles no plantel.

Se defensivamente o Sporting tem estado mal, a consequência são os 13 golos encaixados em 3 jogos contra equipas que provavelmente pode vir a defrontar na Champions, ofensivamente hoje o Sporting esteve bastante abaixo do que mostrou contra o Zenit, por exemplo. Podence, novamente o melhor do Sporting, não esteve tão em jogo, embora quase sempre que tocou na bola ela seguiu com qualidade. A jogada que antecede o lance com Matheus Pereira, mostra bem a visão de jogo que tem.

Alan Ruiz, Iuri Medeiros e Matheus Pereira mostraram pouco, apenas alguns pormenores e vão tardando em fazer exibições convincentes como as de Podence. Se no primeiro caso estamos a falar de um jogador que é aposta do Sporting e de Jorge Jesus, nos outros casos isso não sucede, pelo que não demonstrando em campo, é nos treinos que têm que convencer Jorge Jesus que vale a pena ficarem no plantel. Sim, porque independentemente das análises que se façam aos desempenhos nos jogos, é o trabalho diário com o treinador que vai ditar quem fica ou não no plantel e quem joga ou não nos jogos oficiais.

Há atenuantes e explicações para a série de maus resultados. A verdade é que a pré-época e os amigáveis são o local ideal para errar e para perder jogos, pois quer os erros quer as derrotas não se traduzem em consequências. Jogar à tarde depois de treinos de alta intensidade de manhã contra equipas que estão já noutro nível de preparação é um convite à derrota. Mas sendo um convite à derrota, pode aqui ou ali trazer benefícios que se traduzem da forma de conseguir lidar contra adversários que sejam muito superiores. Isso não se tem visto até ao momento e as derrotas para além de aquecerem conversas de adeptos, apenas têm servido para que se verifiquem os muitos erros feitos e como se devem corrigi-los.

Mas a continuação dessa série corre o risco de desmotivar os adeptos e quiçá um ou outro jogador menos forte psicologicamente. Faltam ainda quase 4 semanas de trabalho e é possível que existam saídas e entradas de jogadores que possam reconfigurar significativamente o plantel. Neste momento os únicos sinais sãoque é preciso continuar a trabalhar, que não parecem existir alternativas no plantel a Rui Patrício e que Podence merece ser aposta.

domingo, 17 de julho de 2016

Wigan-Manchester United

Primeiro desafio dos Reds, que por acaso até jogaram de azul, orientados pelo multi-titulado treinador português. A grande dúvida que está na cabeça de muitos adeptos: Será que José Mourinho conseguirá no Manchester United o sucesso que teve na maioria das épocas no Chelsea? Ou será que desfrutará do insucesso que o levou ao despedimento?

O adversário foi o Wigan Athletic, que tendo começado a sua reparação com um empate a zero com o Braga, ao terceiro jogo apresentou-se como um bom adversário para um treino mais a sério do Manchester United.
Wigan 4-4-2

Jaaskelainen
Daniels, Morgan, Burn e Warnock
Power, Perkins, Taylor (Barrigan 72') e Huws (Powell 72')
Jacobs e Grigg (Davies 45')

Manchester United 4-2-3-1

Johnstone (Joel Pereira 82')
Fosu-Mensah (Valencia 45'), Baily (Tuenzebe 82'), Blind (Blackett 73') e Shaw (Jones 45')
Herrera (Varela 73') e Carrick (Andreas Pereira 45')
Lingard (Januzaj 45'), Mkhitaryan (Mata 45') e Depay (Young 45')
Wilson (Keane)

0-1 Keane 49'; 0-2 A. Pereira 58'

Sim, esta é a equipa do famoso "Will Grigg's on Fire, Your defence is terrified". E o Will Grigg jogou os primeiros 45 minutos, mas não se deu por ele em campo. Quanto a José Mourinho, se fizer aquilo em que é especialista, que é criar um grupo unido e motivado, em que os jogadores confiam cegamente na sua liderança e entram a 100% em todos os jogos, acredito perfeitamente que no final da temporada estará na decisão da Liga Inglesa. E acontecerá porque se o Manchester United já tinha talento sub-aproveitado, José Mourinho optou por contratar jogadores que sabe que terão rendimento imediato.

Sobre Zlatan Ibrahimovic não é preciso dizer muito, pois todos o conhecem e ao seu enorme talento e capacidade goleadora. Além disso, Zlatan trabalhou com Mourinho no Inter de Milão e conhece o seu método de trabalho. Mas para além de Zlatan, Mourinho contratou um dos melhores médios do mundo ao Borussia de Dortmund. Pode parecer exagerado a quem não seguia a Bundesliga, mas o arménio Mkhitaryan é um talento com uma criatividade enorme e com uma capacidade técnica de igual monta. A capacidade para criar desequlíbrios desta dupla, será o ponto forte da equipa de Mourinho. Quanto a Eric Baily que veio do Villarreal, parece ser um interessante projecto de jogador, não tanto na vertente defensiva, mas antes no que pode acrescentar em termos de passes verticais a partir da defesa.

Mais do que dizer que um treinador presta ou não, pretende-se discutir a abordagem táctica. O que acontece é que o trabalho do treinador não se limita à parte táctica. Existe a parte da liderança, da motivação, da criação de um grupo unido, da potencialização do desempenho dos atletas. Esses são factores de muito difícil observação e a discussão desses factores prende-se essencialmente com o ouvi dizer e com o acho que, pois as conclusões normalmente derivam não da observação directa, mas da observação indirecta. O que pretendemos sempre analisar são os princípios por detrás da forma de jogar.

Infelizmente, neste jogo foram visíveis muitos dos defeitos que o Chelsea do José Mourinho mostrava. Viu-se um Manchester United sempre mais preocupado em não sofrer golos do que em tentar marcá-los e viu-se que a equipa parecia estar mais preocupada em defender com muitos e a reagir rápido à bola do que a defender os espaços.

Em organização defensiva muitas vezes se viram 5/6 jogadores atrás da linha da bola, o que limita severamente a forma de jogar pois estará quase sempre a atacar em inferioridade numérica quer nos corredores laterais, quer especialmente no corredor central. No momento de construção, os laterais não se projectam e mesmo no momento da criação, normalmente, só um dos laterais sobe.

Explicando a terminologia, quando a equipa recupera a bola na sua defesa e começa a construir os lance de ataque, está no momento de construção, normalmente no seu meio-campo defensivo. Quando a equipa que tem a bola, passa para o meio-campo ofensivo, vai começar a ter que criar lances que desequilibrem o adversário, momento de criação. O objectivo é ganhar vantagem, seja espacial - espaço sem adversários, seja temporal - ter tempo para executar sem grande oposição, para que os jogadores da nossa equipa possam finalizar a jogada, momento de finalização.

Nos momentos em que o segundo lateral sobe para responder à variação do centro do jogo (mudança de flanco) e fazer o campo grande (ter jogadores a toda a largura do campo), como parte de posições mais recuadas, normalmente a equipa adversária tem tempo para bascular (mudar o posicionamento em campo, dirigindo-se para o lado onde a bola está) e perde-se a vantagem numérica da variação. Outro dos problemas identificado com os laterais foi que quando sobem com bola no pé, normalmente conduzem-na até a deixarem no pé do extremo, trazendo consigo mais um adversário.

Deve-se referir que há a clara tentativa de manter a posse de bola no momento da construção, mas se o adversário pressionar os laterais ou os centrais e estes não estiverem confortáveis com bola, optam pelo passe em profundidade, normalmente para um dos corredores laterais, o que garante que mesmo que o Manchester United perca a posse de bola, nunca será numa zona que permita um contra-ataque rápido.

Em termos de organização defensiva continuam as referências individuais e a aposta nos duelos físicos. Os médios defensivos baixam para perto dos centrais, formando um rectângulo, por forma a tentar impedir a entrada de bolas no bloco à frente dos centrais. Mas como as referências são individuais, muitas vezes são os próprios centrais que saem da sua posição para irem disputar bolas seja no corredor lateral, seja no corredor central mas muito longe do outro central. Isto origina que existem vários momentos em que há grandes espaços que podem ser aproveitados pelos adversários.

Na maioria das vezes a pressão apenas se iniciava perto da linha de meio-campo e só no final da primeira e início da segunda parte se pôde observar uma tentativa de pressão alta a todo o campo para tentar condicionar a saída de bola que era feita pelo Wigan. A consequência foi um mau passe do guarda-redes do Wigan, uma intercepção e assistência do Mata para um golo em que o Keane apenas teve que empurrar a bola para a baliza, abrindo assim o marcador.

Este foi só o primeiro jogo de treino, portanto a amostra não é significativa para se tirarem conclusões definitivas. Além disso, muitos dos prováveis titulares não estiveram presentes e com maior qualidade, é natural que se possam fazer coisas diferentes. Mas como foi dito anteriormente, procuram-se analisar os princípios que estão por detrás do que se vê em campo.

O Wigan foi uma agradável surpresa. Procurou sempre uma construção apoiada, saindo quase sempre a tocar, o que lhes custou um golo, mas que lhes renderá muitos benefícios se tiverem a coragem que demonstraram contra o Manchester nesta opção de jogo. A diferença de qualidade e algumas limitações técnicas foram visíveis, mas muitas vezes se viram os defesas a progredirem, fixarem e soltarem.

Não se deu pelo famoso Will Grigg que espalhava o pânico na League One, mas Michael Jacobs e Nick Powell, curiosamente este último ex-Manchester United, pareceram ser muito superiores aos colegas e por ventura com potencial para mais altos voos. O guarda-redes internacional finlandês Jaaskelainen apesar do erro no primeiro golo, mostrou uma boa qualidade a jogar com os pés e um elemento fundamental para o estilo de jogo imposto pelo jovem treinador escocês Gary Caldwell.

sábado, 16 de julho de 2016

Calendário da Liga NOS 2016-17

Quem quer ser campeão, mais do que se preocupar se o sorteio foi favorável ou não, tem que se preocupar em criar as condições para regularmente vencer, pois ao fim de 34 jornadas, ganha quem é mais regular, independentemente das considerações sobre quem joga melhor ou pior.

Consoante os objectivos de cada equipa, assim se devem preparar os plantéis e programar os picos de forma. Será curioso verificar quem se apresentará melhor no mês de Abril, o único mês em que se disputam 5 jornadas e no qual há um Benfica-Porto e um Sporting-Benfica.

A esperança é sempre a última a morrer, mas dificilmente deixaremos de ver as equipas a jogar para o pontinho, em especial quando jogarem fora de casa. Diga-se em abono da verdade que tal perspectiva representa uma visão pré-histórica e desadequada da realidade. Desde que o campeonato passou a atribuir 3 pontos por vitória e 1 por empate, ainda nem era liga, que 1 vitória e 1 derrota somam mais pontos que 2 empates.

Apesar de isso já ter acontecido há tantos anos, continuamos a ver os treinadores a apostarem no treino de equipas que estão preparadas para defender fora de casa e que depois sentem imensas dificuldades a jogar em casa contra equipas que se fechem como elas o fazem. Mais de que as regras, as mentalidades ainda não mudaram e a consequência são os espectáculos pobres que normalmente se podem presenciar ao ver os jogos da liga portuguesa.

Ao invés, as ligas alemã, espanhola e mesmo a inglesa oferecem espectáculos interessantes, melhor jogado num sítios, com maior competência técnica ou táctica noutros, mas todos com um denominador comum, apresentar espectáculos que atraiam o público aos estádios, pois um jogo de bancadas vazias é sempre menos espectacular do que um jogo com um bom ambiente.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Benfica-Vitória de Setúbal

Primeiro jogo público da época do Benfica frente a um Vitória de Setúbal que aparenta estar num momento similar da pré-época. O mais significativo foram as diferenças de forma entre alguns dos jogadores do Benfica. Tacticamente, também existe uma grande assimetria entre a organização ofensiva e a organização defensiva, sendo que no segundo momento muitas das ideias da época passada parecem já estar consolidadas.

As equipas alinharam com:

Benfica
Paulo Lopes
Nélson Semedo (Almeida 45'), Luisão (Kalaica 45'), Jardel (Lisandro 45') e Grimaldo (Reinildo 76')
Fejsa (Cellis 64'), João Teixeira (André Horta 45'), Pizzi (Salvio 45') e Carrillo (Chuky 45')
Guedes (Benitez 45') e Jovic (Rui Fonte 45')

Vitória de Setúbal
Varela
Gorupec (Gonçalo Duarte 45'), Frederico Venâncio, Fábio Cardoso (Vasco Fernandes 45') e Nuno Pinto (Ruca 45')
Fábio Pacheco, Nene Bonilla (Alexandre 79') e Costinha (Mohcine 68')  
João Amaral (Vasco Costa 45'), Nuno Santos (Arnold 45') e  André Claro (Thiago Santana 45') (Meyong 83')

O Benfica voltou a alinhar com o seu 4-4-2 habitual, com um avançado mais adiantado Jovic e um avançado mais móvel e a recuar para vir buscar jogo, Gonçalo Guedes

 Em termos de organização defensiva, a equipa parece já conhecer as ideias do treinador:

- bloco médio-alto para tornar a equipa compacta a defender
- razoável domínio da técnica da linha defensiva
- equipa relativamente estreita, com basculações para o lado da bola, sendo a largura garantida pelo extremo do lado contrário
- centrais a pegarem nos avançados quando estes invadem a sua área e a compensação a ser efectuada pelos médios centrais, preferencialmente Fejsa, mas também João Teixeira
- grande reacção à perda da bola, o que leva uma pressão alta, se bem que nem sempre feita
- marcação à zona nas bolas paradas defensivas
- sobrecarga de jogadores na zona onde é expectável que a bola caia vindo de lançamentos laterais ou pontapés de baliza com o intuito de ganhar as segundas bolas

Para duas semanas de trabalho, mostram um domínio muito razoável destes conceitos embora ainda existam alguns pontos a melhorar:

- a pressão alta nem sempre é bem efectuada, visto que é mais à bola em vez de às linhas de passe e consequentemente uma equipa que troque bem a bola poderá passar esta primeira linha de pressão e aparecer no contra-ataque em superioridade numérica
- os centrais ao seguirem os avançados que caem na sua zona e os arrastam para a linha lateral, criam temporariamente um espaço muito grande no corredor central porque um dos centrais, Luisão, não ajusta a sua posição e obriga a que ambos os médios defensivos cubram essa área, o que nem sempre será possível fazer com a celeridade necessária
- dois dos centrais, Luisão e Lisandro, estão, muitas vezes, a afundar a linha, não reagindo correctamente ao jogo e com pouca coordenação, o que origina a criação de espaço nas costas dos outros elementos da defesa, se bem que penso que a entrada de Lindelof que tem o perfil de líder, poderá resolver esta questão

No entanto, ofensivamente, as coisas estão muito mais atrasadas. É certo que os principais avançados, Jonas e Mitroglou ainda pouco tempo de trabalho têm com a equipa. Além disso, Carrillo e Zivkovic estiveram muito tempo parados e Benitez e Chuky Cervi estão apenas a começar a trabalhar na Europa e com Rui Vitória. Além disso, Jovic pareceu estar demasiado pesado.

A jogar Jonas pede coisas à equipa que mais ninguém o faz, pois aparece constantemente dentro do bloco a dar linhas de passe, incentiva os extremos a virem para dentro e combina com eles, arrasta defesas para a lateral, clareando espaços para os extremos ou os laterais entrarem na área com a bola dominada e em boas condições de finalizar. Já Mitroglou é uma referência para o jogo aéreo, para segurar a bola e esperar pelos colegas, faz apoios frontais com qualidade dentro do bloco adversário, tem movimentos de arrastamento dos centrais semelhantes aos de Jonas. Além destes movimentos, qualquer um destes avançados tem uma boa capacidade de finalização.

Sem nenhum destes elementos em campo, a organização ofensiva caracterizou-se essencialmente por:

Na fase da construção:

- Saída a três, através do recuo de Fejsa ou para o meio dos centrais, ou para a posição mais à esquerda da defesa e projecção assimétrica dos laterais com a bola a entrar no lateral mais projectado
- Caso essa saída não funcionasse, Fejsa retomava o corredor central, João Teixeira/André Horta recuavam para irem buscar a bola ao círculo central e distribuírem para o lateral mais projectado ou para um dos extremos

Na fase da criação:

- combinações no corredor lateral com extremos por dentro e laterais por fora, ou vice-versa, tentando criar desequilíbrios a partir da ala, fosse para ganhar a linha de fundo (situação preferencial), fosse para procurar o avançado do lado da bola para criar combinações interiores (situação menos frequente mas criadas essencialmente por Pizzi do lado direito e Grimaldo e Cervi do lado esquerdo)

Na fase de finalização:

- remates de fora da área e cruzamentos, muitas vezes sem qualquer sentido e estragando muitas jogadas
- combinações curtas dentro bloco a terminarem com busca da profundidade no meio-espaço entre o corredor central e o corredor lateral que permitissem remates cruzados

Há muito para trabalhar em organização ofensiva porque para além de muitos elementos estarem fora de forma e portanto menos móveis que o exigível, foram acumulando muitos erros técnicos (maus passes, deficientes recepções, dribles sem sucesso, remates mal-executados) derivados quer da fase da época, quer da falta de soluções.

Conforme foi abordado no post anterior, terão que existir ainda muitas mudanças no plantel do Benfica, com a saída de vários jogadores e quiçá a entrada de mais um ou dois, pelo que se tornará difícil mesmo para Rui Vitória trabalhar certos aspectos da organização ofensiva.

No Benfica destacaram-se Fejsa e Grimaldo na primeira parte e Cervi e Cellis na segunda. Depois houve jogadores que tiveram alguns pormenores que deixaram antecipar que com maior conhecimento das ideias da equipa, com outros colegas no ataque e estando em melhor forma física poderão dar coisas muito interessantes à equipa: Carrillo, Jovic e Horta. Cellis terá que se acautelar com as entradas que faz, pois num jogo a sério, este tipo de entradas facilmente dá origem a amarelos. Infelizmente não pudemos ver Zivkovic em acção.

Mas também existiram exibições muito pobrezinhas em especial de Salvio, Pizzi e André Almeida. Desde a lesão que Salvio parece ter perdido a explosividade que lhe assegurava os desequilíbrios que criava. Salvio nunca foi muito bom na questão da decisão com bola mas sempre compensou com a sua excepcional capacidade física. Está em clara crise de confiança, porventura exacerbada pela incapacidade em desequilibrar fisicamente. Seria uma boa altura para tentar mudar o perfil de jogo, procurando associar-se mais aos colegas no corredor central e tentando menos desequilibrar na ala, mas será que aos 25 anos um jogador é capaz de mudar de perfil?

Pizzi e André Almeida, por ventura devido à senioridade dentro da equipa, abalançaram-se a fazer coisas para as quais claramente não têm capacidade. Se houve algo que sempre se destacou nestes jogadores foi a sua capacidade para perceberem as suas limitações e jogarem com isso. Quando não o fazem, somam-se más decisões e tornam-se prejudiciais à equipa.

Gonçalo Guedes e João Teixeira deveriam ser emprestados a equipas onde possam jogar com continuidade e onde exista um treinador os ajude a perceber que o futebol é um jogo colectivo e que devem sempre tentar perceber o que o jogo pede antes de decidirem tentar brilhar individualmente. Têm potencial para mais do que são actualmente. São novos e podem ainda evoluir no entendimento do jogo. Se não o fizerem, em dois, três anos deixarão definitivamente de poder fazer carreira no Benfica. O jogo deve-se jogar de cabeça levantada, como faziam Rui Costa ou Aimar e não com a cara virada para o chão e sem qualquer noção espacial quer de colegas quer de adversários.

Quanto ao Vitória de Setúbal pareceu, na primeira parte, ser uma equipa interessante que procura sair com a bola controlada a partir do seu triângulo de meio-campo com Fábio Pacheco como médio defensivo e Nené Bonilla e Costinha como interiores. Defensivamente, organizam-se em bloco baixo mas com toda a equipa cerca de 35 metros, o que dificultará a tarefa de equipas que não consigam fazer boas trocas de bola. Na segunda parte, talvez fruto das alterações, pouco ou nada se viu ao Vitória de Setúbal, com excepção de um livre, aos 79 minutos, sobre a direita que deu origem a uma finalização dentro da área do Benfica que com maior acerto poderia ter dado golo.